Laborat
labor – lat.: trabalho, ofício; at – do ing.: “em”, na cultura digital “@”, neste lugar; laborat – lat.: que está em funcionamento, em operação.
Laborat é um laboratório de pesquisas aplicadas à educação em ambientes formais, no qual se desenvolvem projetos especificamente destinados à criação de ambientes educacionais adequados, simultaneamente, aos fins do ensino e a políticas curriculares de inclusão de minorias culturais e intelectuais. Suas atividades dinamizam práticas de ensino embasadas nos princípios teóricos derivados das linhas de investigação do grupo de pesquisa Linguagem, Cognição Humana e Processos Educacionais, tendo sempre à frente o interesse na garantia do direito universal à educação escolar.
Seu campo de atuação é o regime de formação inicial de professores da educação primária, com a perspectiva de que se tornem agentes qualificados de letramento e alfabetização em contextos escolares fortemente caracterizados pela diversidade cultural e intelectual. Embora atue neste campo, o laboratório não é propriamente um espaço de investigações na área de formação docente e sim, na área dos processos formativos em ambientes formais de ensino afetados e ressignificados pelos recursos de TI contemporâneos. Entretanto, não se perde com isto, naturalmente, vínculo com certas áreas prevalentes, como a de formação de professores e as demais áreas de investigação do grupo de pesquisa, uma vez que todo processo formativo tem a priori direta subordinação a um projeto curricular cujos objetivos (específicos e formativos) determinam as condições de ensino.
O objeto que ordena toda a atividade do laboratório é o rito da aula em ambiente formal de ensino, dentro ou fora da escola, sob o impacto dos meios e recursos oriundos da TI. Tal questão veio à tona de forma contundente durante o longo período de emergência sanitária entre os anos de 2020 e 2022 – em média, de 48 meses em todo o planeta – durante o qual os recursos de TI foram rapidamente absorvidos pelas escolas e universidades na tentativa de manter seus alunos em curso apesar da necessidade de afastamento social. Problemas que de início pareceram decorrer da falta de domínio dos recursos tecnológicos pelos professores, mostraram-se, todavia, derivar da ausência de adequação entre os parâmetros de sua criação, utilização e aproveitamento didático ordinariamente descritos em manuais e na literatura especializada, e as demandas de formação e ensino, específicas do ofício docente e coerentes com as expectativas de formação da cultura escolar. Noções como a de videoaulas, lições estruturadas e até a de design instrucional foram desenvolvidas a partir de parâmetros extra-escolares, para emprego sobretudo em meios corporativos de treinamento, destinados, portanto, a sujeitos com objetivos homogêneos e centrados em certo conhecimento específico. Na cultura escolar, todavia, o conhecimento específico das diferentes áreas ou disciplinas não se basta no processo de formação dos alunos. A este se agrega um complexo espectro de aspectos formativos que concorrem com a mesma relevância – ou em alguns projetos curriculares, ainda com mais relevância do que os conhecimentos específicos – na formação integral dos alunos. Tais aspectos que são próprios do ofício docente e são parte fundamental da formação escolar e universitária estão por ser introduzidos e implementados na aula que se desenvolve com o uso da TI, especialmente na educação a distância ou híbrida.
O laboratório dinamiza experiências de formação híbrida com alunos de Licenciatura em Educação em regime presencial e a distância, da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No regime de educação a distância, implementado através do complexo sistema mantido pelo consórcio CEDERJ de universidades públicas, alcançam-se 6 das 7 das regiões do Estado do Rio de Janeiro, representadas por alunos de quatorze municípios e toda a diversidade cultural que representam.
Pesquisa aplicada e produção de conhecimento
A aula híbrida é um conceito ainda por se definir.
Embora o laboratório dinamize os aspectos teóricos relacionados a todas as linhas de investigação do grupo de pesquisa a que está vinculado, dois deles apontam-se com maior aderência ao objeto de particular interesse nos projetos em desenvolvimento, qual seja, o rito da aula perpassado pelos recursos de TI. São eles:
- (i) as estratégias curriculares de formação do professor, e;
- (ii) as políticas de avaliação e acompanhamento da aprendizagem.
A relação entre avaliação e as estratégias de formação é um dos aspectos mais sensíveis em regimes de ensino híbrido ou a distância, tendo em vista sua maior dependência de recursos tecnológicos, seja como suporte material ao tipo de instrumento a se adotar, seja como emulador de práticas tradicionais de avaliação, preponderantemente de caráter mensurativo. À medida em que os projetos curriculares de formação pressuponham modelos de avaliação e acompanhamento orientados para outros tipos de valores para além da mera mensuração, amplia-se o custo de aplicação e aproveitamento dos recursos ordinariamente associados às ferramentas tecnológicas empregadas nos ambientes não estritamente presenciais de ensino. Por este motivo, pesquisas aplicadas no campo de estudos sobre a aula não presencial não devem ser alienadas de um contexto de ensino definido por um projeto curricular de formação e de uma política de avaliação e acompanhamento que proporcione ao professor acompanhar coerente e efetivamente o desenvolvimento do projeto de formação.
O objeto primário de investigação no laboratório é a aula híbrida, ao mesmo tempo presencial e a distância, síncrona e assíncrona, situada para além de fronteiras de espaço e tempo. Contudo, ainda assim, uma aula, algo que não se confunde com outros ritos extra-escolares, mesmo aqueles que presumidamente têm caráter instrucional ou informativo. A aula híbrida é um conceito ainda por se definir, a fim de que se possa alcançar equilíbrio entre (i) o arranjo de tecnologias que lhe deem sustentação nesta hiperespacialidade que lhe é peculiar, (ii) as condições de manutenção dos alunos em curso, visando a reduzir custos de evasão, e (iii) as condições de ensino-aprendizagem que assegurem o desenvolvimento do aluno, ainda que a distância do professor. No que consiste, portanto, uma aula híbrida e sob que traços estruturais podem ser definidos critérios de avaliação de sua qualidade?
No estudo de tais traços estruturais, o laboratório destaca dois objetos de investigação que constituem elementos essenciais da aula híbrida:
- (i) o processo de categorização do conteúdo formal da aula, proporcionando a segmentação das informações em segmentos que possam guardar redundância nos diferentes espaços simultâneos de ensino-aprendizagem: a sala de aula, o(s) ava(s) e os espaços complementares conectados por links; analisa-se, também, o emprego da categorização do conteúdo no controle de timing de assistência, que regula o fluxo e duração de blocos de informações tendo por parâmetro as características de cada turma ou aluno, como por exemplo, nos anos finais do ensino básico, nos primeiros semestres ou ao final da graduação, no mestrado ou doutorado;
- (ii) os recursos de TI e o design instrucional, considerando-se sua adequação a cada tipo de aula, conteúdo e assistência; no caso do design, considera-se, ainda, o fato de que, diferentemente da perspectiva convencionalmente adotada em seu estudo, a aula híbrida implica uma concepção multiespacial, em que se planeja o design como estrutura, aparência e bridge entre ambientes de aprendizagem.
No âmbito do design instrucional, a aparência não representa apenas uma perspectiva estético-visual; ao contrário, a estética no design da aula híbrida é parte fundamental da categorização do conteúdo e dos recursos de interação com o aluno, especialmente quando à distância. Toda aula híbrida é constituída de imagens – a aula é uma imagem que se desdobra e se multiplica – motivo pelo qual a teoria e os recursos de produção de imagens (fixas e dinâmicas) são objetos de interesse primário do laboratório de linguagens e ambientes de ensino hipertextual. O conhecimento sobre a natureza da imagem que compõe os diferentes tipos e finalidades de aulas híbridas é uma fonte importante de traços estruturais a serem adotados na sua organização e avaliação.
Em síntese, portanto, os aspectos investigativos em processo no laboratório envolvem os campos apresentados na imagem a seguir:
Híbrido – Hybrid
Diz-se de ou organismo formado pelo cruzamento de dois progenitores de raças, linhagens, variedades, espécies ou gêneros diferentes ; que ou o que é composto de elementos diferentes, heteróclitos.
O híbrido na Educação não constitui por si mesmo um desafio conceitual ou heurístico, porque já é presente em experiências formais de EAD desde o século passado, especialmente quando estas passaram a conjugar recursos como programas de rádio ou TV a recursos didáticos complementares, como apostilas ou, em casos mais restritos, salas de tutoria presencial. O problema que se apresenta hoje na educação formal reside no fato de que o híbrido impregnou-se na prática docente em cursos presenciais, o que viria a alargar a noção de “presença às aulas”, seja pelo uso de recursos de teletransmissão em tempo real, seja pelo resgate da aula em ambientes virtuais de aprendizagem. Toda a discussão teórica e aplicada volta-se para a figura do professor em aula e, consequentemente, para sua formação enquanto ator principal de um dos ritos centrais da cultura escolar: o ato de ensinar e formar. Trata-se de uma experiência inerente à prática docente e inalienável da figura do professor de cada área de conhecimento. O híbrido da educação contemporânea consiste numa ruptura com a estrutura canônica da aula convencional, porém sem prejuízo de sua condição primária de rito de formação escolar.
O que é próprio deste híbrido na aula contemporânea é sua capacidade de romper com as limitações espaciotemporais daquela concepção tradicional de sala de aula. Se no passado a sala de aula fora o lugar do ensino-aprendizagem –- onde tudo se dá e para onde tudo se volta –, hoje a sala de aula é um lugar complexo, abstrato, sem um aqui ou agora fixos, porém, ainda assim, claramente organizado como espaço de ensino-aprendizagem de uma educação formal de natureza escolar. O planejamento e execução de uma aula envolve hoje um complexo sistema de variáveis que vão desde as diferentes fisionomias dos atores às ferramentas tecnológicas que viabilizam a articulação entre pessoas e experiências de aprendizagem e formação. O professor é uma figura que ora é presença física, ora é imagem em vídeo, ora é tão somente um vestígio expresso em material disponível em seu AVA. Do mesmo modo o aluno, ora presente e com pleno acesso ao professor, ora presente a distância, como audiência, nem sempre com acesso imediato a interações com o professor, ora, ainda, solitário, a distância, interagindo com o material disponível no AVA. Não importa onde se encontrem, estes atores serão sempre os mesmos: professores e seus alunos. Síncronas ou assíncronas, todas as experiências de aprendizagem devem claramente convergir para um mesmo ponto: a aula. Não se trata de várias aulas sobre o mesmo tema, mas de uma mesma aula que se desdobra simultaneamente e com o mesmo conteúdo de formação para diferentes espaços e tempos. Esta é a questão central que envolve a consolidação do híbrido na educação contemporânea.
Equidade é meta maior…
O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, “democracia racial”, raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais (Darcy Ribeiro, professor).
Ambientes de aprendizagem hipertextual oferecem uma janela de oportunidades para a educação formal contemporânea, sobretudo para a implementação de políticas de educação social e inclusiva. Reunindo o que de melhor se obtém do ensino presencial e do ensino mediado a distância, os ambientes híbridos têm potencial para garantir acesso universal à educação escolar, sem prejuízo de qualidade de ensino com padrões efetivamente escolares, com menor tempo de atividades presenciais e maior tempo de formação global. Além disso, à medida que se universaliza o acesso à internet através de políticas de inclusão digital, menor o custo para implementação de programas de formação escolar híbrida, que tendem a ser incorporados às práticas ordinárias de cada professor. Uma política de educação formal capaz de chegar a todos com iguais perspectivas de formação é sinônimo de equidade, meta primordial das políticas de inclusão social.
Na perspectiva da busca por equidade na universalização do ensino básico e superior, todos significa realmente conhecer e educar cada um, não como massa abstrata, mas como sujeito singular. Não pode existir um todo se alguém não se sente parte dele. Crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas normais cada qual com seus próprios talentos e deficiências, super-heróis ou bandidos, todos são acima de tudo um singular.
Ambientes de aprendizagem hipertextual são instrumento desta singularização do sujeito escolar, levando ao ensino universal e de qualidade uma perspectiva nova sobre a noção de acessibilidade. Integrando-se às investigações do grupo de pesquisa Linguagem, Cognição Humana e Processos Educacionais, o LaborAt explora o emprego das tecnologias da informação como instrumentos de acessibilidade e inclusão social a serviço do professor no ensino híbrido.
LaborAt – Laboratório de Linguagens e Ambientes de Aprendizagem Hipertextual : Vinculado ao portal www.senna.pro.br e seus ambientes integrados, AVAgpLinguagem e @LAGSenna (Youtube). Associado ao grupo de pesquisa Linguagem, Cognição Humana e Processos Educacionais, ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ao Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro através do consórcio CEDERJ. Este laboratório é financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa – FAPERJ.
Rua São Francisco Xavier, 524 Sala 12.037-F / 20550-900 Rio de Janeiro / RJ